quarta-feira, 27 de março de 2019

Os sujeitos no universo da escola - Verónica Edwards


Introdução
“(...) não basta hastear novamente as velhas crenças; não é solução acreditar agora em seus contrários; é necessário voltar sobre o que acreditávamos conhecer, questionar o óbvio, voltar sem trégua sobre nosso senso comum.” (p. 11)

"O sujeito, aluno e professor, participa da estruturação da forma de conhecimento que se transmite na classe e nas relações que ali se estabelecem. O problema, então, fica assim formulado: a participação do sujeito na constituição da situação escolar e ao mesmo tempo a constituição do próprio sujeito por esta participação, mediado pelos conhecimentos escolares. A relação entre os sujeitos e o conhecimento se transformou no eixo principal de análise.” (p. 12)


Em geral, os alunos são considerados o elemento subalterno da situação escolar.  Da perspectiva que considera a escola como aparelho ideológico do Estado, o professor é o portador e o transmissor da ideologia dominante. É o professor que realiza tarefa tão fundamental.

Perspectiva do aluno, como sujeito. Recuperar a visão dos alunos da situação escolar, considerando-os, tanto quanto os professores, sujeitos sociais.




O sujeito é social desde que nasce, constitui-se sempre em relação a outros, mediado pelas significações sociais de seu mundo. Se o sujeito se constitui no social desde que nasce, não se pode considera-lo uma tabula rasa, como se costuma fazer.

“(...) a ideia de um sujeito que preexiste à sua história, à sua própria educação.” (p. 14)

“(...) supõe-se também a ideia de um sujeito que é moldado pelo meio ao interiorizar a norma naturalmente, sem oposição ou reelaboração alguma de sua parte. Recebe o que lhe é transmitido na escola e se adapta aos valores e à cultura de uma dada classe social, inculcados na escola por intermédio da violência simbólica. Mistifica-se o poder da inculcação do conteúdo, usualmente em seu caráter ideológico; e do sujeito criança como tabula rasa passa-se a conceber o sujeito adulto como suporte de estruturas ou, no mesmo sentido, portador de uma ideologia. Estabelece-se uma relação dicotômica entre sujeito e mundo e se atribui ao sujeito uma situação passiva nessa relação.” (p. 14)

“O sujeito está determinado por suas condições cotidianas de vida, pela classe à qual pertence, pelo grupo imediato através da qual pertence a ela, pelo lugar que ocupa na divisão do trabalho, por seu lugar na família e por sua história escolar...em parte. Em parte, porque o sujeito também contribui para a constituição de todas as situações. (p. 15)

“A superação da alienação, por sua vez, não é um estado absoluto a que se chega de uma vez e para sempre; é uma conquista permanente, e é desigual em relação às diferentes dimensões do sujeito, como, por exemplo, a política, a pessoal, a de trabalho, etc. Por fim isso nos leva a considerar que a identidade do sujeito é multifacética e incoerente, e que os sujeitos são heterogêneos entre si, ainda que pertençam ao mesmo grupo social e se considere que estão determinados pelas mesmas estruturas.” (p. 15)

A situação escolar está constituída de maneira importante pelos conhecimentos que nela circulam: os que se transmitem e os que se constroem.

EscolaEspaço social que deve, legitimamente, transmitir os conhecimentos que para esse fim se legitimaram socialmente.

ConhecimentoElemento constitutivo fundamental da situação escolar, inclusive a partir de sua definição institucional; uma construção histórica de visões de mundo que se apresentam como o verdadeiro para um período histórico determinado; produção social e histórica, que se torna possível a partir de um determinado interesse.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Para que educamos nossas crianças?



A escola, muitas vezes, ocupa um lugar massificador, podando a criatividade e a ludicidade e exigindo que todas as crianças apresentem comportamentos iguais e dentro dos "padrões". Muitas vezes deixamos a rotina e a falta de cor tomar conta do nosso dia a dia, ou seja, encaramos o mundo ao nosso redor, muitas vezes intoxicados pela rotina que nos cerca e deixamos de lado a imaginação e o afeto. Tendemos a copiar os padrões que nos ensinam, sem parar para refletir qual o sentido daquilo.

Precisamos ressaltar a importância da escuta nas relações entre pais e filhos e entre professores e alunos, assim como a importância da imaginação como caminho para fazer do mundo um lugar mais "colorido". 

É urgente a necessidade de que processos educativos sejam personalizados às necessidades e interesses das crianças, entendendo as relações de afeto como fundamentais para a aprendizagem. Cada criança é especial à sua maneira. Cada ser é único e precisamos respeitar a subjetividade de cada um. Como pais e educadores, precisamos pensar sobre os papéis sociais que transmitimos para as crianças, e como os valores que comunicamos em nossas atitudes refletem no modo como elas percebem seu papel no mundo. 

terça-feira, 21 de agosto de 2018

16th Braz-Tesol International Conference

Durante os dias 19 e 22 de Julho aconteceu em Caxias do Sul (RS) a 16ª Conferência International promovida pela Braz-Tesol. Sou membro da associação desde 2011 e essa é a minha segunda vez no evento, que acontece a cada dois anos.
Durante os quatro dias de conferência, os principais membros da comunidade brasileira ELT (English Language Teaching) e internacional se reuniram para refletir e pensar o futuro do nosso campo.
O tema esse ano foi "Através do caleidoscópio: Perspectiva múltipla em ELT" (Through the kaleidoscope: Multiple perspective in ELT). Essa temática permitiu aos profissionais do Brasil e convidados do exterior refletirem sobre a importância de olhar a nossa área de atuação sob a perspectiva de um campo que amadureceu ao longo dos anos e consolidou práticas pedagógicas e profissionais, mas que também está em sintonia com os mais recentes desenvolvimentos na educação e ciente das demandas que o século 21 impõe aos alunos e professores. 

A conferência proporcionou quatro dias de intensas trocas de aprendizado e ricas possibilidades de networking para todos os presentes no evento. Uma oportunidade de participar de palestras exclusivas de uma ampla variedade de profissionais do ensino da língua inglesa, além de interação entre os principais especialistas da área que puderam compartilhar suas ideias e nos oferecer oportunidades de adquirir novas habilidades.

Na ocasião tive a oportunidade de conhecer e conversar com incríveis nomes da área do ensino de língua inglesa.
http://braztesol.org.br/internationalconference/


Elaine Gallagher é Bacharel em História e Governo, Mestre em Educação e Doutora em Liderança. Trabalha na educação há 50 anos, como professora, diretora escolar, designer de currículo, autora e consultora educacional para escolas públicas e privadas nos Estados Unidos da América, México, Brasil, Espanha, Argentina, Guatemala, Colômbia e Equador. Em sua plenária, Elaine Gallagher falou sobre "Change and Leadership" (Mudança e Liderança) e nos levou a refletir em como as mudanças são possíveis e que o futuro não apenas acontece, ele é moldado por nossas ações. 

Gustavo Gonzales, a guest speaker da Oxford University Press falou da bela combinação entre aprendizado e diversão (Leaning and Fun: What a beautiful combination). Segundo Gonzales, a diversão deve ser um elemento vital no processo de aprendizagem para garantir o engajamento dos alunos e fazer com que eles aprendam ativamente.

JJ Wilson é professor, instrutor e escritor de ELT altamente estimado. Seus interesses em ELT incluem "aquisição de vocabulário, inovação na pedagogia da audição e leitura e questões de desenvolvimento profissional". JJ é o co-autor dos níveis Intermediário e Avançado do Total English. JJ também escreve ficção sob o nome de JJ Amaworo Wilson. Sua novela de 2016, Damnificados, ganhou três prêmios e foi endossada por Oprah (By the way, I really want to read this novel).
https://jjawilson.wordpress.com/
https://blog.reallyenglish.com/


quarta-feira, 11 de julho de 2018

Resenha - Cultura: um conceito antropológico. Roque de Barros Laraia


"(...) a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas."  
"A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante."


A obra “Cultura: um conceito antropológico”, de Roque de Barros Laraia, pretende apresentar ao leitor o conceito antropológico de cultura de forma didática, clara e simples. O livro é dividido em duas partes: a primeira “Da natureza da cultura ou da natureza à cultura”, é composta por seis capítulos, e a segunda “Como opera a cultura”, é composta por cinco capítulos.
            Na primeira parte, o autor apresenta o conceito cultura a partir das manifestações iluministas caminhando até os autores modernos. Na segunda parte, o autor procura demonstrar como a cultura influencia o comportamento social e diversifica, enormemente, a humanidade, apesar de sua comprovada unidade biológica.
            No primeiro capítulo, “O determinismo biológico”, Laraia contrapõe teorias que atribuem capacidades específicas inatas a “raças” ou a outros grupos humanos. A capacidade de aprender e a sua plasticidade são fatores inerentes aos seres humanos e tiveram papel preponderante na sua evolução. O comportamento de um indivíduo é fruto de um aprendizado, de um processo chamado endoculturação, ou seja, o indivíduo não age diferentemente em função de suas capacidades inatas, mas em decorrência da educação que recebe.
            O segundo capítulo, “O determinismo geográfico”, apresenta os conceitos de Boas Wissler e Kroeber, que refutam as teorias desenvolvidas por geógrafos no final do século XIX e início do século XX, que defendiam a ideia de que as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural. Os autores supracitados, no entanto, defendem que existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais, e que as diferenças entre os homens não podem ser explicadas em termos das restrições que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com as suas próprias limitações.
            O capítulo três, “Antecedentes históricos do conceito de cultura” analisa a origem da palavra “cultura”. A partir dos termos germânico “Kultur” e do francês “civilization”. Edward Tylor sintetizou o termo inglês “culture”, que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
Laraia apresenta ainda, as definições de John Locke, Marvin Harris e Jean – Jacques Rousseau percorrendo até Tylor e Kroeber, que definem cultura como sendo todo o comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, e afirmam, assim, que o homem é o único ser possuidor de cultura. O capítulo traz a ideia de aprendizado da cultura em oposição a ideia de aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos.

domingo, 29 de abril de 2018

"Num mundo como o nosso, em que progridem a ciência e suas aplicações tecnológicas cada dia mais, não se pode admitir que o homem se satisfaça durante toda a vida com o que aprendeu durante uns poucos anos, numa época em que estava profundamente imaturo. Deve informar-se, documentar-se, aperfeiçoar a sua destreza, de maneira a se tornar mestre da sua práxis. O domínio de uma profissão não exclui o seu aperfeiçoamento. Ao contrário, será mestre quem continuar aprendendo" (Pierre Furter)  

terça-feira, 10 de abril de 2018

Uma Linguística Aplicada Transgressiva

Esta publicação tem o objetivo de apresentar algumas ideias contidas no capítulo dois intitulado "Uma Linguística Aplicada Transgressiva" de Pennycook do livro Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar organizado por Luiz Paulo da Moita Lopes. 

Neste capítulo o autor articula os princípios para embasar uma Linguística Aplicada transgressiva ou antidisciplinar, que se caracteriza por ser híbrida e dinâmica. O autor argumenta que a teoria transgressiva quer ir além das teorias chamadas de "pós" e que devemos passar a pensar em teorias "trans", que possibilitem um conjunto mais variado de teorias do que aqueles representados pelas teorias "pós". Para Pennycook a LA transgressiva envolve a necessidade de pensar diferente, de politizar e problematizar o próprio conhecimento que produz. 

Os slides apresentados são resultado de um trabalho da Pós-graduação do curso Lingua(gem), Cultura e Ensino da Universidade Estadual de Goiás - Campus Inhumas. 




terça-feira, 11 de abril de 2017

Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Nos dias 7 e 8 de Abril de 2017, no Auditório da OAB-GO, aconteceu o 2° Encontro Goiano de Autismo. O encontro teve por objetivo disseminar informações seguras e importantes sobre um dos transtornos do neurodesenvolvimento que mais tem aumentado a prevalência no mundo todo. O evento contou com a presença de palestrantes goianos e de outros estados e discussões acerca de pesquisas que estão sendo encampadas por especialistas brasileiros que buscam entender o mecanismo biológico do autismo. 

O encontro teve como público alvo pais e familiares de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), além de profissionais e estudantes das áreas de Saúde e Educação. Durante o evento foram discutidos temas bastante relevantes tais como, diagnóstico precoce, autismo na vida adulta, psicomotricidade, inclusão, legislação e políticas públicas, adaptação curricular, pesquisas recentes em genética e Análise do Comportamento Aplicada. Foi uma excelente oportunidade de aprender, debater e compartilhar experiências.

Dados relevantes
A prevalência de casos de autismo tem aumentado de forma rápida nos últimos anos, o que acendeu sinal de alerta da Organização Mundia de Saúde (OMS) e da Associação Americana de Psiquiatria. A última pesquisa do CDC (Center of Diseases Control and Prevention) - Órgão norte-americano próximo do que representa, no Brasil, o Ministério da Saúde - mostrou que, nos Estados Unidos, a cada 45 crianças, uma está no espectro do autismo. Os dados foram divulgados em 2015. As estimativas já apontam para 70 milhões de pessoas com autismo no mundo. A título de comparação, a estimativa no Brasil dos casos de Síndrome de Down, embora não oficial, aponta a proporção de 1 para 700. Seriam cerca de 300 mil pessoas com Síndrome de Down e 2 milhões de autistas no país. O autismo tornou-se uma pauta urgente de saúde pública. As unidades do SUS não conseguem absorver a demanda de pacientes e, tratamentos particulares custam muito caro, uma vez que precisa ser intensivo e pode durar toda a vida. Além disso, não há profissionais suficientes para atender essa parcela da população. 

Popularmente conhecido como autismo, o Trastorno do Espectro Autista engloba diferentes síndromes marcadas por perturbações do desenvolvimento neurológico, com três características fundamentais, que podem manifestar-se em conjunto ou isoladamente. São elas: déficits na comunicação por deficiência no domínio da linguagem e no uso da imaginação para lidar com jogos simbólicos, dificuldades de socialização e também padrão de comportamento restritivo e repetitivo. Também chamado de Desordens do Espectro Autista (DEA), recebe o nome de espectro porque envolve situações e apresentações muito diferentes umas das outras, numa gradação que vai de mais leve a mais grave. O TEA é classificado em três graus: leve, moderado e severo. Todas, porém, em maior ou menor grau estão relacionadas com as dificuldades de comunicação e relacionamento social. 

https://www.facebook.com/EncontroGoianoAutismo/?fref=ts