Dayane Rita da Silveira
Marcelo Miguel de Araújo
A educação brasileira tem
enfrentado uma enorme crise no que diz respeito à tentativa de garantir valores
e atitudes educativas. A escola tem realizado um trabalho árduo ao tentar
ensinar certos valores que, por outro lado, são ignorados pelo estilo de vida
adotado pela sociedade atual, que na maioria das vezes pregam valores
contrários. Educar os nossos jovens brasileiros apresenta-se como uma tarefa
dura diante das grandes transformações sociais, econômicas e culturais a qual a
sociedade tem passado. Diante dessa grande dificuldade que a escola tem
enfrentado para educar integralmente os alunos de modo a formar cidadãos
conscientes, surgiu então, a necessidade de se pensar em um sistema educativo
que garantisse igualdade de condições que, por sua vez, possibilitem e
valorizem a aprendizagem. É nesse campo de se pensar em uma proposta de
minimizar as desigualdades socioculturais através de redes educativas locais que se dá início o Programa Mais Educação.
O programa Mais Educação
foi pensado como uma estratégia do Governo Federal para induzir a ampliação da
jornada escolar e a organização curricular, na perspectiva da Educação
Integral. Esse programa visa tentar diminuir as desigualdades educacionais e
valorizar a diversidade cultural brasileira através da ampliação de tempos,
espaços, oportunidades educativas e o compartilhamento da tarefa de educar
entre profissionais de diversas áreas. Vale ressaltar que, para que o programa
atinja seus objetivos é necessário que a equipe escolar construa o seu próprio
projeto educativo com a formulação de metas e meios levando em consideração as
particularidades da comunidade atendida.
Nesse sentido, segundo
Delors (1998) a educação deve basear-se em quatro pilares: aprender a conhecer, fazer, conviver e a ser. Em outras palavras, a
educação deve priorizar o conhecimento, preparar o sujeito para colocar em
prática esse conhecimento adquirido, permitir a descoberta do outro e de como
atuar em meio a uma sociedade de forma autônoma e crítica.
A nossa sociedade atual
tem sofrido várias mudanças no que diz respeito aos saberes. O processo de
globalização permite que sejamos bombardeadas o tempo todo com uma grande
quantidade de notícias e informações, que por si só, não se constituem em
saberes. Isso nos leva a entender que as nossas crianças não precisam ir à
escola para terem acesso a informações, pois isso elas têm em qualquer lugar,
independente de idade, sexo, cor, classe social etc. Pensando nisso, a escola
deve ter o papel de ensinar os alunos a refletir sobre suas idéias. Ensiná-los,
através do diálogo entre saberes escolares e saberes comunitários, a entender melhor
os sentidos do mundo, da vida, das relações com o mundo e consigo mesmo.
O Programa Mais Educação
prevê a ampliação de, pelo menos, três horas diárias no ensino regular para
atender aos múltiplos aspetos da Educação Integral. As ações complementares as
desenvolvidas no ensino regular já estão previstas na Constituição Federal
(1988), que garantem a obrigatoriedade e gratuidade do ensino, e na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), que prevê a ampliação
da jornada escolar. Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL,
1990) defende o direito a proteção e ao desenvolvimento integral da criança e
do adolescente. Vale ressaltar que, é uma enorme conquista para a sociedade a
existência de bases legais que garantam os direitos das crianças e
adolescentes. Porém, é de importância igual para a efetivação da Educação
Integral, a existência de uma proposta pedagógica consistente e coerente com as
diferentes realidades da educação brasileira.
Diante do exposto,
entende-se que a escola de Educação Integral deve, além de oferecer os
conteúdos curriculares, garantir aos seus alunos um ambiente onde haja trocas
de experiências culturais, sociais e históricas. E, para que isso aconteça,
a instituição de ensino deve buscar parcerias diversas entre Estado, outras
instituições políticas e a própria sociedade. A sociedade disponibiliza a
população uma série de espaços públicos que podem potencializar as ações
desenvolvidas pela escola, transformando a educação em uma prática comunitária.
Nessa perspectiva de levar o processo educativo para bem além dos muros da
escola, surge à ideia da cidade educadora,
uma vez que, os espaços públicos podem ser vivenciados como experiências
educativas.
A cidade educadora deve ir além de suas funções tradicionais e
assumir novos papéis, tornando-se um lugar de convivência, de aprendizagem, de
participação da vida social e política onde todos possam exercer os seus
direitos de cidadãos. Na verdade, não é tão fácil pensar nessa tal cidade educadora tendo em vista a crise
que a cidade tem passado decorrente de desemprego, grande violência e exclusão
social. É necessário repensar a cidade, rever conceitos e pré-conceitos e
pensar em uma forma de reconstruí-la para torná-la um agente potencial de
educação.
O Programa Mais Educação prevê articulações
que extrapolem os muros da escola, uma vez que o ambiente escolar não deve ser
considerado como a única via para adquirir conhecimento. Aos alunos deve ser
dada a possibilidade de conhecimento e exploração dos diversos espaços
urbanos. A partir de então os alunos
passam a fazer intervenções e participar do processo de reconstrução da cidade.
Dessa forma, a cidade passa a ser um agente educador e conseqüentemente o aluno
passa a ser aquele que irá agir de forma crítica sobre ela transformando-a em um
espaço cada vez mais digno e justo para o cidadão.
Referências bibliográficas
BRASIL.
Ministério da Educação. Lei no 9.394, de 23 de dezembro de 1996. Fixa as
diretrizes e bases da educação nacional (LDB). Brasília: Ministério da
Educação, 1996.
BRASIL.
Ministério da Saúde. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre
o estatuto da criança e do adolescente e dá outras providências. Brasília:
Ministério da Saúde, 1990.
BRASIL.
Senado Federal. Constituição (1988). Constituicao Federativa da
Republica do Brasil.
Brasília: Senado Federal, 1988.
DELORS, J. Educacão
um tesouro a descobrir –
Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação Para o
Século XXI. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: UNESCO, 1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário