sábado, 17 de março de 2012

A Cidade como Elemento Fundamental para a Educação Integral

Dayane Rita da Silveira
Marcelo  Miguel de Araújo

A educação brasileira tem enfrentado uma enorme crise no que diz respeito à tentativa de garantir valores e atitudes educativas. A escola tem realizado um trabalho árduo ao tentar ensinar certos valores que, por outro lado, são ignorados pelo estilo de vida adotado pela sociedade atual, que na maioria das vezes pregam valores contrários. Educar os nossos jovens brasileiros apresenta-se como uma tarefa dura diante das grandes transformações sociais, econômicas e culturais a qual a sociedade tem passado. Diante dessa grande dificuldade que a escola tem enfrentado para educar integralmente os alunos de modo a formar cidadãos conscientes, surgiu então, a necessidade de se pensar em um sistema educativo que garantisse igualdade de condições que, por sua vez, possibilitem e valorizem a aprendizagem. É nesse campo de se pensar em uma proposta de minimizar as desigualdades socioculturais através de redes educativas locais que se dá início o Programa Mais Educação.

O programa Mais Educação foi pensado como uma estratégia do Governo Federal para induzir a ampliação da jornada escolar e a organização curricular, na perspectiva da Educação Integral. Esse programa visa tentar diminuir as desigualdades educacionais e valorizar a diversidade cultural brasileira através da ampliação de tempos, espaços, oportunidades educativas e o compartilhamento da tarefa de educar entre profissionais de diversas áreas. Vale ressaltar que, para que o programa atinja seus objetivos é necessário que a equipe escolar construa o seu próprio projeto educativo com a formulação de metas e meios levando em consideração as particularidades da comunidade atendida.
Nesse sentido, segundo Delors (1998) a educação deve basear-se em quatro pilares: aprender a conhecer, fazer, conviver e a ser. Em outras palavras, a educação deve priorizar o conhecimento, preparar o sujeito para colocar em prática esse conhecimento adquirido, permitir a descoberta do outro e de como atuar em meio a uma sociedade de forma autônoma e crítica.
A nossa sociedade atual tem sofrido várias mudanças no que diz respeito aos saberes. O processo de globalização permite que sejamos bombardeadas o tempo todo com uma grande quantidade de notícias e informações, que por si só, não se constituem em saberes. Isso nos leva a entender que as nossas crianças não precisam ir à escola para terem acesso a informações, pois isso elas têm em qualquer lugar, independente de idade, sexo, cor, classe social etc. Pensando nisso, a escola deve ter o papel de ensinar os alunos a refletir sobre suas idéias. Ensiná-los, através do diálogo entre saberes escolares e saberes comunitários, a entender melhor os sentidos do mundo, da vida, das relações com o mundo e consigo mesmo.
O Programa Mais Educação prevê a ampliação de, pelo menos, três horas diárias no ensino regular para atender aos múltiplos aspetos da Educação Integral. As ações complementares as desenvolvidas no ensino regular já estão previstas na Constituição Federal (1988), que garantem a obrigatoriedade e gratuidade do ensino, e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), que prevê a ampliação da jornada escolar. Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) defende o direito a proteção e ao desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Vale ressaltar que, é uma enorme conquista para a sociedade a existência de bases legais que garantam os direitos das crianças e adolescentes. Porém, é de importância igual para a efetivação da Educação Integral, a existência de uma proposta pedagógica consistente e coerente com as diferentes realidades da educação brasileira. 
Diante do exposto, entende-se que a escola de Educação Integral deve, além de oferecer os conteúdos curriculares, garantir aos seus alunos um ambiente onde haja trocas de experiências culturais, sociais e históricas. E, para que isso aconteça, a instituição de ensino deve buscar parcerias diversas entre Estado, outras instituições políticas e a própria sociedade. A sociedade disponibiliza a população uma série de espaços públicos que podem potencializar as ações desenvolvidas pela escola, transformando a educação em uma prática comunitária. Nessa perspectiva de levar o processo educativo para bem além dos muros da escola, surge à ideia da cidade educadora, uma vez que, os espaços públicos podem ser vivenciados como experiências educativas.
A cidade educadora deve ir além de suas funções tradicionais e assumir novos papéis, tornando-se um lugar de convivência, de aprendizagem, de participação da vida social e política onde todos possam exercer os seus direitos de cidadãos. Na verdade, não é tão fácil pensar nessa tal cidade educadora tendo em vista a crise que a cidade tem passado decorrente de desemprego, grande violência e exclusão social. É necessário repensar a cidade, rever conceitos e pré-conceitos e pensar em uma forma de reconstruí-la para torná-la um agente potencial de educação.
 O Programa Mais Educação prevê articulações que extrapolem os muros da escola, uma vez que o ambiente escolar não deve ser considerado como a única via para adquirir conhecimento. Aos alunos deve ser dada a possibilidade de conhecimento e exploração dos diversos espaços urbanos.  A partir de então os alunos passam a fazer intervenções e participar do processo de reconstrução da cidade. Dessa forma, a cidade passa a ser um agente educador e conseqüentemente o aluno passa a ser aquele que irá agir de forma crítica sobre ela transformando-a em um espaço cada vez mais digno e justo para o cidadão.

 Referências bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação. Lei no 9.394, de 23 de dezembro de 1996. Fixa as diretrizes e bases da educação nacional (LDB). Brasília: Ministério da Educação, 1996.

BRASIL. Ministério da Saúde. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o estatuto da criança e do adolescente e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde, 1990.

BRASIL. Senado Federal. Constituição (1988). Constituicao Federativa da Republica do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

DELORS, J. Educacão um tesouro a descobrir – Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação Para o Século XXI. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: UNESCO, 1998.    

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